16 out Desafios no setor de distribuição de energia elétrica
Jorge Medeiros
Julho 2019
MERIBE Consulting
O modelo secular de Geração, Distribuição e Consumidor do setor elétrico está em questionamento pelas modificações na base dos seus fundamentos.
O comportamento econômico unidirecional tradicional deste setor não se sustenta mais. Com as mudanças no comportamento dos consumidores de energia, pelos novos avanços tecnológicos que estão levando as empresas para a Transformação Digital, com o surgimento da viabilidade econômica de várias novas fontes de geração de energia elétrica, e fortes requisitos ambientais sendo requeridos, a desregulamentação está a caminho para o setor e alguns tímidos passos já aconteceram e mais se seguirão.
Como podemos observar nas estatísticas mostradas nos gráficos, vemos um crescimento no volume de energia consumida pelos clientes não cativos das distribuidoras e uma queda no consumo dos clientes cativos dessas distribuidoras nos últimos anos, muito oriundas dessas novas fontes de geração de energia alternativas à termo-hídricas que temos como principais na nossa matriz energética.
E particularmente aqui no Brasil, um agravante tem sido o custo da energia que é fornecida ao longo dos anos para os consumidores, quer seja para o residencial ou industrial, e que tem apresentado índices de correção tarifária muito acima do índice inflacionário, conforme vemos abaixo.
Então, com pressão de custos para os consumidores e um movimento também dos consumidores para um mercado não cativo de fornecimento de energia, um dos participantes dessa cadeia que mais deve sentir riscos no seu negócio é o da Distribuição. Assim, acredito que eles sejam um dos maiores interessados em absorver as novas tecnologias buscando sua Transformação Digital para melhor prestação de serviço ao seu consumidor comercial/industrial ou residencial, com alta eficiência operacional e econômica. A Transformação Digital vai capacitar às empresas desse setor de energia a possibilidade de ofertar serviços com maior confiabilidade, conseguirem mais flexibilidade no seu funcionamento e um maior grau de satisfação do cliente.
É inegável que as distribuidoras terão de ter uma rede de distribuição de energia mais inteligente (SmartGrid), o que vai demandar a inclusão dessas novas tecnologias digitais para um funcionamento mais versátil suportando condições novas de variações na rede de distribuição, pela proliferação de entidades antes não existentes no sistema, como unidades de geração de energia distribuídas e onde alguns desses tipos de geração possuem características de instabilidade de geração. Ou seja, podem deixar de gerar o volume de energia que estão provendo no momento, no minuto seguinte. Um exemplo é a capacidade de geração de energia nos parques eólicos no nordeste do Brasil, que podem suprir toda a demanda de consumo de energia da região desde que exista vento. Na ausência do vento, a rede de distribuição deve contar com outras fontes geradoras para que os clientes não fiquem sem energia.
Então as distribuidoras devem se capacitar com novos sistemas de gestão de rede de distribuição de energia, considerando que agora na rede existem vários agentes geradores de energia que são instáveis, mas a distribuidora deve garantir que seus clientes não sejam impactados por essa possível instabilidade. E mais ainda, temos que quando esses agentes geradores estão gerando para consumo próprio não devem comprar energia da distribuidora. Assim sendo, a distribuidora deverá ter um maior controle da rede e precisa ser muito criativa para suplantar essa possível perda de receita quando o cliente está fazendo geração própria. Sendo assim deverá pensar também em novos modelos de negócio para sua operação.
Como no segmento de telecomunicações, as distribuidoras deverão pensar num conjunto de ofertas de serviços além do fornecimento de energia aos seus clientes, o que normalmente é
chamado oferta de serviços acima do tradicional (OTT – over the top). Para tal situação as distribuidoras devem expandir seus horizontes de receita além da entrega de energia elétrica, com modelos de negócios mais atuais inclusive com parceiros de serviços OTT e um possível compartilhamento dessa receita adicional.
Como a literatura já fala, essa nova rede de distribuição de energia deve ter no centro o cliente (residencial/comercial), mas nos últimos anos têm surgido outros tipos de entidades consumidoras de energia elétrica.
No caso de clientes residencial/comercial ofertas como,
– Provê projeto/implantação/financiamento de geração solar para o cliente além da energia da rede;
– Provê serviço de aluguel de carro elétrico para cliente além da energia da rede;
– Provê estímulo de mudança no hábito de consumo de energia do cliente com bônus de crédito de carbono;
– Provê oferta de pagamento de conta de energia via bitcoin gerando pontos de programa de fidelização;
– Provê oferta de membranas elétricas de decoração para os clientes além da energia da rede;
são possíveis formas de novos serviços vinculadas ao fornecimento de energia.
Adicionalmente as opções acima, estão chegando ao mercado novas entidades consumidoras de energia antes não existentes, como podemos ver na figura abaixo, e que devem ser inspiração às distribuidoras de energia para novos potenciais negócios além do fornecimento de energia.
Ainda nesse setor de meio de transporte, temos um novo mercado sendo criado pela oferta de energia para frota de transporte público/privado com ônibus elétrico e de logística de cargas.
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Fonte: www.osetoreletrico.com.br